NOVA
FRONTEIRA AGRICOLA NO MUNICÍPIO DE ALTAMIRA: O CASO DA COMUNIDADE NOVO PARAISO
Antonio Santos Morais[1]
Rafael Lopes Ferreira ²
RESUMO
O presente texto aborda uma temática relacionada a
vicinal 6/8 colonizada por nordestinos, em 1972 projeto do INCRA e tinha como
objetivo resolver os problemas agrário e econômicos do Brasil. Neste projeto foram
criadas varias vicinais subdivididas em lotes de 100 hectares. Idealizado pelos
militares que trazia o slogan: “Integrar para não entregar”, financiado pelo
Banco Mundial, fazendo assim aumentar a dívida externa do Brasil. Pensado para
a Amazônia, onde viviam verdadeiros defensores do meio ambientes, vários povos
indígenas. Planejado para gerar emprego e renda, porém com características do
centro sul do país, o projeto encontrou barreiras e teve vida curta.
As famílias que foram trazidas para trabalharem
agricultura familiar não foram as primeiras a serem donas das “Terra sem homens
para homens sem terra”. Várias famílias nordestinas já haviam sido atraídas no
século XIX quando deixaram sua terra natal para extraírem látex das
seringueiras -árvore amazônica – encontrado em toda parte da floresta. O
governo incentivava as famílias produzir alimentos sem orientá-las o
cumprimento das leis ambientais nem financiar equipamentos tecnológicos já
existentes e viáveis. Agricultura tradicional foi destruindo as florestas,
poluindo os igarapés e extinguindo animais. Como não ouve gestão governamental
para o desenvolvimento econômico nem a aplicação das políticas publicas, o
projeto foi inviável economicamente e ecologicamente.
Palavras chaves: vicinal, agricultura familiar,
políticas publicas, projeto, meio ambiente, economia, problemas agrários e
leis.
1. Introdução
Este
estudo traz um debate a cerca do projeto do governo federal para ocupar a
Amazônia através do Plano de Desenvolvimento Econômico do País e Plano de
Integração Nacional (PIN), que tinha como objetivo acelerar a ocupação da
Amazônia e fazer uma integração com Nordeste e Centro-Sul.
O primeiro crescimento populacional
da história do município de Altamira foi na década de 70 após a construção da
rodovia Transamazônica, BR 230. A partir da década de 1980, com a divulgação da
construção da hidrelétrica ”Belo Monte” no rio Xingu iniciou a o segundo
momento de crescimento populacional e hoje vive o maior crescimento demográfico
de sua historia com as obras em curso. Outro grave problema em Altamira é a
ausência de política agrícola e assistência técnica a agricultura familiar, o
município sofre um momento crítico da sua história, as comunidades formadas
pelos trabalhadores rurais começaram sofrer esvaziamento. Acontece o êxodo
rural.
Quero discutir analisando os problemas agrários que o município vem
sofrendo e deixando de ser um município agrícola se transformando em município
urbano rodeado pela pecuária que usa as técnicas antigas do desmatamento
ostensivo da floresta, assoreando os rios promovendo assim o genocídio da rica
biodiversidade da Amazônia.
Analisando as políticas municipais, estaduais e nacionais quanto à
criação e reestruturação dos modelos econômicos implantados no município e o
desenvolvimento pensado por grupo político que territorializaram Altamira com
financiamento público, transformando a economia agrária em urbana. Foi fácil
entender o processo histórico de ocupação territorial da vicinal 6/8 denominada
“Novo Paraíso”. Difícil é entender a desterritorialização feita pelas famílias
levada pelo INCRA. Veja o gráfico 01 da origem destas famílias.
Várias atividades econômicas foram
exercidas por elas da coleta da castanha-do-pará, criação de animais domésticos,
plantio de pimenta-do-reino, mandioca e produção de seus derivados e outros
produtos alimentícios com destaque para o feijão, arroz e milho. E por ultimo a
pecuária – a que mais cresceu na vicinal principalmente após os financiamentos
do FNO especial em 1992 administrados pelo BASA – Banco da Amazônia.
Parece-nos, portanto, que é bom
continuar questionando o modelo de desenvolvimento implantado pelo INCRA,
quando realizou esta colonização. Para entender o processo da territorialização
e desterritorialização do município de Altamira especificamente a vicinal 6/8
lemos e analisamos o livro “Altamira e sua Historia” do professor Ubirajara
Umbuzeiro filho do município e relatos das principais atividades dos órgãos
públicos estaduais, federais e da prefeitura de Altamira. O capitulo 4 do livro
“Fronteira Amazônica:
Questões sobre a gestão do território” do trio de geógrafas; Lia
Osório, Bertha Becker e Mariana Miranda. E duas monografias produzidas por
estudantes de agronomia da UFPA escritas em 1992 quando estas pessoas
estagiaram naquela vicinal com objetivo de entender o funcionamento da
agricultura familiar. Relatórios dos nossos conhecimentos, pois somos sujeites
desta história e os questionamentos que surgiram após com estes relatórios
organizamos um questionário que usamos nas entrevistas realizadas com quinze
famílias da vicinal; sendo as quatro que continuam, quatro que se mudaram para
cidade de Altamira, quatro que compraram lote em outra localidade e três
famílias que chegaram após a colonização do INCRA. Outro questionário foi
extraído do nosso relatório para as entrevistas nos órgãos públicos estadual,
federal e municipal. E nas organizações não governamentais com sede em
Altamira.
2 - O PAPEL DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS NO
MUNICÍPIO DE ALTAMIRA.
O Estado
se faz presente no município de Altamira através dos órgãos públicos como o
INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) atuava por meio de
dois projetos: o PIC/ATM (Projeto Integrado de Colonização de Altamira) criado
para jurisdicionar uma área de aproximadamente 3.125.200ha. Até 1986 tinha expedido 7.324 documentos de
lotes de 100 ha e 282 documentos de glebas com 500 ha, também foram
documentados 32 lotes de 3.000ha, referentes a licitações efetuadas.
Responsável pelas 27 agrovilas, com um total de 1.377 casas, e 1.642km de
estradas vicinais. Foram assentadas 8.070 famílias dentro das normas do órgão.
Apenas 50% destes adquiriram créditos bancários após anos de trabalho e coragem
de seus ocupantes que enfrentaram a selva bruta. A desistência registrada na
época foi de 23%.
O
segundo trabalho do INCRA foi o Projeto Fundiário Altamira de 1972, atualmente
gerenciado pela Unidade Avançada. Este abrangia 11.025.722ha, foram entregue
910 títulos definitivos, 326 licenças de ocupação, 57 contratos de compra e
venda e 5.345 autorizações de ocupação. As áreas de mineração tem sido um dos
grandes problemas no município de Altamira. Embora os alvarás sejam expedidos
pelo DNPM (Departamento Nacional de Produtos Minerais) eles não têm sido
realizados com um estudo prévio da situação fundiária. Um dos problemas mais
graves é o da Oca Mineração Ltda., na Volta Grande, onde famílias assentadas
pelo INCRA são protestadas pela mineradora. O INCRA trabalha em Altamira, com
infra-estrutura comprometida por falta de recursos financeiros e humanos
tentando organizar uma unidade avançada. Hoje executa o programa “Terra Legal”.
O INCRA também legalizou em 1988, através de um decreto uma área militar com
aproximadamente 315.790ha para uso do Ministério do Exército, localizado entre
os rios Iriri e Xingu. A partir desta data ficou conhecida como Floresta
Nacional do Xingu.
IBAMA
(Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos recursos naturais Renováveis) ligado
ao Ministério do Meio Ambiente chegou em Altamira ainda com a denominação IBDF (Instituto
Brasileiro de Defesa Florestal) em 1972, com objetivo de orientar coordenar
e/ou executar medidas necessárias à proteção e à conservação dos recursos
naturais renováveis e ao desenvolvimento florestal do município, em
conformidade com a legislação em vigor. A partir de 2003 o órgão iniciou a luta
pela legalização das madeireiras que se instalaram no município de forma
irregular. Hoje continua seu trabalho depois
do EIA- RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental) das
obras da hidroelétrica Belo Monte e dos projetos existentes ou a serem
implantados na região.
A
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER, órgão do governo do
Estado do Pará iniciou seus trabalhos em 1969, para incentivar o aumento da
produção e melhoria das condições de vida sócio-econômicas. Com o a abertura da
Transamazônica o trabalho foi ampliado. Vários cursos foram realizados nas
comunidades rurais criada pelo projeto fundiário de Altamira e nas que já
existiam. Sobre estes não se encontram registro, pois não há documentos em sua
sede, segundo entrevista realizada com a responsável pelo escritório regional
no inicio de 2006. Com a conquista do FNO especial pelos trabalhadores
organizados, a EMATER era responsável pela elaboração do projeto. “Os
técnicos não visitavam as áreas que os projetos seriam aplicados” afirmou
um financiado membro da Associação dos Pequenos Produtores de Altamira e Região
(APRAR) primeira a pleitear e ser contemplada com 32 projetos para plantio de
fruticultura e criação de gado leiteiro (Trabalho de campo, 2013). A ação dos
técnicos se restringia a resolver os problemas burocráticos entre quem
executava e quem financiava, deixando a parte técnica sem acompanhamento. As
famílias tinham experiências na agricultura, mas era preciso um acompanhamento
dos técnicos para que elas aplicassem novas técnicas e administrassem com
sucesso o financiamento.
A CEPLAC
(Comissão Executiva de Plano da Lavoura Cacaueira) chegou em Altamira com a
implantação do Programa para Amazônia, onde o Pará foi o primeiro a receber o
“Projeto Cacau” com objetivo de plantar 160 mil hectares de cacau na Amazônia.
Em Altamira os trabalhos iniciaram através de um convênio com a EMATER. Em
1989. Foram 312 os produtores assistidos numa área de 1.918ha. . (UMBUZEIRO
1999, p.159)
Atualmente,
apesar das altas e baixas nos preços, é o produto que tem contribuído na
estruturação dos trabalhadores rurais que plantaram esta lavoura em seu lote.
No início só era plantada em terra roxa onde a produção é maior. Com o tempo,
esta lavoura, também passou ser cultivada em terra mista. Além da queda do
preço, provocado pela variação do preço do dólar, o cacau sofre com a praga que
ataca as folhas e galhos das árvores, denominada vassoura-de-bruxa, e se não
podado poderá matá-las, aumentando a mão de obra das famílias.
De “Novo Paraíso” para “Lagoa da Serra”
A migração
campo-cidade no município de Altamira sempre foi impulsionada por um conjunto
de fatores. Um desses fatores tem a ver com a saída das famílias colonizadoras
de suas terras, a partir da década de 1970 quando o INCRA deixou de pagar o
salário e cesta básica mensal. Algumas famílias nem chegaram a morar em seus
lotes. Apenas construíam barracos que eram chamados de “rabo de jacu” [2]
São muitas as historias das famílias
que venderam os lotes neste primeiro momento de êxodo, entre 1972 e 1975. Confira
no gráfico 02.
Mas depois das
entrevistas feitas com as famílias e as historias que ouvimos chegamos à
conclusão que as famílias não conseguiram construir aí um novo habitat como o era aquele deixado no
Nordeste.
Nossa
família tinha um lote pequeno com casa, açude umas criações como animal de
serviço e umas vaquinhas, mas quando chegou a notícia que tinha lote grande
muita água e um salário todo mês, nós deixamos tudo e fomos pra fila se
inscrever para viajar para Amazônia, tudo que queríamos conhecer, não vendemos
nada pois se não desce certo voltaríamos. Não deu certo, mas nós não voltamos. (TRABALHO
DE CAMPO 2006).
Além do choque sofrido por estas
famílias que deixaram no Nordeste, o espaço vivido, para construir um novo
espaço no meio da floresta amazônica, sofreram também dificuldades como: mata
densa, distancia entre uma família e outra, falta de estrada, de meios de
transporte e de infra-estrutura básica. Isto fez com que as famílias
planejassem seu retorno para a terra natal ou se evadissem para a cidade mais
próxima, como foi o caso da família entrevistada. O não cumprimento das
promessas do INCRA com a saúde, educação, estradas, financiamento e assistência
técnica a partir das experiências das famílias. Além disso, a produção agrícola
não tinha bom preço comparado ao trabalho que dava para produzir e transportar.
As lideranças da comunidade criaram em 1991 a Associação dos
Pequenos Produtores da Vicinal Novo Paraíso (APROVINPA). Junto às entidades
ligadas ao MPST (Movimento Pela Sobrevivência na Transamazônica) esta
associação apresentou o projeto ao BASA elaborado pelos técnicos da EMATER do
escritório local de Altamira. Todos foram aprovados para o plantio de coco e
cupuaçu, consorciado; compra de gado leiteiro, animal de serviço, construção de
cerca e curral. O gado comprado de atravessadores que, por sua vez, aumentaram
os preços e a produção que não tinham canal de comercialização, foram às primeiras
preocupações da associação.
Passados os dois anos de carência a APROVINPA participou da
caravana à Belém, organizado pelo MPST onde renegociou as dividas com o BASA, o
que foi feito e refeito para ajudar os financiados a pagarem suas dívidas.
Algumas famílias venderam os lotes para os compradores pagar a referida dívida,
ou pagavam as mesmas com o dinheiro arrecadado.
Este foi considerado o terceiro
momento de migração, quando as famílias colonizadoras e as substitutas sentiram
que os financiamentos não tinham resolvido os problemas sentidos por elas. E
ainda tinham criado outro problema – a dívida. Junto com estas famílias foram
aquelas que não tinham terra, mas viviam da mão-de-obra gerada nestes lotes que
elas também aproveitavam para a produção dos alimentos básicos.
Este período de ritmo muito
acelerado da migração, quando a pecuária era a principal atividade econômica na
região, a vicinal que no inicio tinha a cada 500 metros uma casa no meio de um
pomar formado por grande variedade de plantas frutíferas, passou a ser um
deserto verde com a segunda natureza plantada pelos que pensam em alimentar
bovino em área cercada. Em cada lote restaram apenas os pomares como registro
de uma história construída por alguém que veio do nordeste brasileiro para
“amansar” estas terras para poucos lucrarem.
A fazenda que em 2012 já concentrava
36 lotes dos 48 colonizados em 1972, somado a uma parte da área da antiga
Agrovila e outros lotes das vicinais vizinhas, gera 25 empregos diretos, sendo
10 fixos e 15 em regime de contrato de prestação de serviço para atender os
serviços gerais. Lagoa da Serra, como é denominada, ganhou esse nome após um
igarapé ser barrado para acumular água para o gado, criação de peixe e para uma
área de lazer, que chegou a ser construída com ipê de primeira, cobertura com
telha de barro e iluminada com energia de Tucuruí. A nova área de lazer foi
construída no 13º lote a esquerda, ao lado da nova sede, com churrascaria,
quadra esportiva, gramado e iluminado; arquibancadas e vestiário. Numa nascente
de água foram construídos piscinas e um tanque para criação de peixe. A
estrada, que muitas vezes ficou intrafegável por falta de reformas, mas servia
para a entrada e movimentação das famílias, em 2004 passou a ser uma das
melhores estradas-vicinais. Está sempre reformada pelas máquinas da fazenda e
outras que alugavam para seus serviços. Nos anos de 2004 a 2007 a fazenda gerou
vários empregos na construção da nova sede.
PROCESSOS DE MIGRAÇÃO E FATORES QUE CAUSARAM O ÊXODO
RURAL
A educação formal executada pelo governo do estado e depois
pela prefeitura não formou trabalhador/a rural. Esta é a avaliação do professor
que estudou nesta comunidade de 1ª a 4ª série em regime multisseriada na década
de 1980 e foi um dos únicos a retornar á comunidade após concluir seus estudos
na cidade em 1992. A experiência em educação deste funcionário, que contribui
na organização de projetos como horta e roça escolar, preparando o local com
novas técnicas, que o STTR (Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais),
desenvolvia sem queimar a vegetação; plantar leguminosas para adubo orgânico. “Organizamos
palestras com vários temas de interesses daquelas famílias. Das sementes que
semeei algumas germinaram e estão reproduzindo outras sementes”. Relatou
o professor.
Outro fator da saída foi o exército brasileiro, órgão
público federal que obriga os jovens a servirem a pátria, onde se aprende
algumas profissões, menos a de trabalhador rural, contribui com o processo de
êxodo rural. É o que relata uma família colonizadora, “dos cinco filhos da nossa família que serviram o exercito, nenhum
voltou pro lote, o primeiro foi pro Rio de Janeiro, o segundo para Brasília, o
terceiro foi para o sul do Pará, o quarto seguiu carreira militar e o quinto
também continuou em Altamira como vigilante”. Segundo ela, alguns ainda
voltaram ao lote, mas permaneceram por pouco tempo, pois a produção não lhes
dava dinheiro como os salários dos empregos por onde passaram. A família vendeu
o lote em 1995 por 15 mil R$ (quinze mil reais) quando o casal não tinha mais
saúde para continuarem trabalhando, e as filhas escolheram estudar e exercer
outra profissão.
A referida família plantou algodão, pimenta-do-reino e
cacau, orientada pela EMATER e financiada pelo Banco do Brasil. Segundo o
grupo, estes produtos... “não deram
lucros. Restaram apenas as dividas que foram pagas graças a nossa idéia de
plantar mandioca para produzir farinha”. Porém o que esta família planejava
estava muito além do real, uma vez que pensavam construir a vida em meio a
floresta com igarapés de águas limpas. Mas
o que resta são extensas áreas cercadas e
águas poluídas e ainda, segundo a família “parte da nossa vida está
naquele lote onde trabalhamos tanto e hoje só temos essa casa de lucro”. Com uma parte do dinheiro do lote ela comprou
a casa onde mora na cidade de Altamira e a outra parte fez o tratamento do
casal que nasceu, cresceu na roça e possui nove filhos/as exercendo profissões
diferentes da profissão da mãe e do pai. A assistência técnica dos
financiamentos bancários foi outro serviço público que não contribuiu com as
famílias como nos relatou uma delas.
O
primeiro financiamento que nós fizemos no Banco Brasil não ajudou nós, só
atrapalhou, pois o técnico foi lá em casa e disse que eu tinha que plantar
pimenta ai ele pegou meus documentos, fez o que o banco pediu e quando o
dinheiro saio eu plantei 2 mil pés de pimenta no outro ano financiei mas 3 mil
pés. Enquanto a pimenta estava produzindo nós tinha dinheiro, depois ela
começou morrer os problemas aumentaram. (TRABALHO DE CAMPO-2006)
Este relato de
uma família colonizadora – deixou o lote em 1998 - mostra a falta de
acompanhamento correto por parte dos técnicos, funcionários públicos, deixando
de prestar serviços às famílias que possuem a prática da agricultura.
A morte da
pimenta-do-reino acontecia segundo pesquisa do Laboratório Agroecológico da
Transamazônica (LAET), devido à forma como o local era preparado e manejado. Essa
lavoura que precisa de sombra de árvore e pequenas plantas chamadas de
leguminosas deixando o solo rico em adubo orgânico e úmido. Técnica
desconhecida por aquela família que não usufruía do acompanhamento adequado
pelos técnicos que sempre tiveram suas equipes reduzidas e sem oportunidades
para adquirirem novas técnicas. Outro fator de descaso dos órgãos públicos de
assistência técnica nos relatou uma família que comprou um lote nesta
comunidade em 1974
Eu fiz um financiamento no Banco do Brasil para plantar arroz em 1980
sem ajuda dos técnicos como eu tinha experiências da minha família no Espírito
Santo deu certo. ...em 1996 fiz outro desta vez o FNO-Especial pela APROVINPA
para comprar gado, animal de serviço, fazer cerca e curral e plantar cupu consociado
com coco. O técnico só visitou minha casa no inicio e não voltou mais no meu
lote. (TRABALHO
DE CAMPO-2006)
Esta
família que a partir de 2006 se sentia “ilhada” pela fazenda, pois seu
lote já estava rodeada pela área da fazenda recebeu proposta para trocar seu
lote em um outro à 8 km do seu, dois anos depois a família fez a troca e
mudaram de comunidade. O proprietário avalia os financiamentos um bom negócio,
mas acha que seria ótimo se houvesse um melhor acompanhamento dos técnicos e
ele se deu bem nos seus negócios devido sua experiência trazida do Espírito
Santo, pois a falta de conhecimentos na área de administração de empresa, pois
o lote se transforma em uma empresa a partir de um financiamento, foi um fator
que transformou o financiamento em dor de cabeça para as famílias que compraram
objetos domésticos com o dinheiro planejado para estruturar o lote. Os juros
bancários são fixos e só aumentam e o gado e plantas só produzem bem se bem
cuidados, quando não têm um bom acompanhamento, foi o que aconteceu com a
maioria dos financiados na vicinal da 6/8. Transformou-se em problema para as
famílias.
Estes financiamentos
que no inicio foi planejado para ajudar a agricultura familiar e fortalecer a
agricultura do município de Altamira e região diminuindo o êxodo rural. Passou
ser um problema sério para as famílias financiadas, pois o gado comprado e as
fruticulturas plantadas não estavam produzindo o suficiente para a
sobrevivência das famílias e o pagamento das dívidas. A comunidade “Novo
Paraíso” na vicinal 6/8 a cada dia que passa vai aumentando o vazio
demográfico, até a década de 2000 moravam poucas famílias, as casa simples de
vários modelos rodeadas de árvores frutíferas ou de enfeites. A partir de 2006
passou ser morada de gado nelore, morada de funcionários da fazenda e algumas
famílias “ilhadas” pela área da fazenda. O que foi um território de nordestinos
agora é um deserto verde padronizado pelo capim. E a cada 500 metros um pomar
abandonado por uma família que deixou uma fonte histórica viva servindo de
referência para as pessoas que passam no local acompanhada de quem fez parte
desta história. Como mostra o gráfico 03
RESUMO
Altamira
criada após as missões Jesuítas as margens do rio Xingu e teve seu crescimento populacional com as
migrações dos nordestinos ocorrida quando ainda era vila do município de Senador
José Porfírio, 50 anos depois da sua emancipação outra na década de 1970, com a
criação do PIC Altamira executado pelo INCRA, aconteceu na distribuição de
lotes na Transamazônica, prova disto é a historia da vicinal 6/8 denominada de
“Novo Paraíso” situada a 25 km da cidade de Altamira, foi colonizada por 44
famílias nordestinas e 4 paraenses. Em 2006 encontramos apenas 4 destas
famílias. O êxodo teve inicio logo após a colonização, durante a pesquisa
buscamos entender as causas deste fenômeno social que transferiu estas famílias
para outras comunidades rurais e maioria para o centro urbano do município. E
as que mudaram para outra área rural provaram que querem continuar na
agricultura, venderam o lote que receberam do INCRA, porque não encontraram
escolas para seus descendentes continuarem estudando, hospitais com tratamentos
médicos que precisavam, nem um acompanhamento técnico para melhorar e aumentar
a produção. O que a “reforma agrária” do governo federal não fez onde estas famílias
estavam elas foram procurar o “lugar ideal” para viver mesmo que para isto
tivessem que deixar o “o espaço vivido” e tentar construir outro em outra área.
O poder público, das três esferas, no
município de Altamira tem feito muita propaganda de política agrícola e que nem
sempre é verdade o que se ver é estes órgão sendo utilizado por pessoas da zona
urbana, com visão urbana, e, contribuindo no fortalecimento de seus grupos alem
de enriquecer pessoas que as patrocinam nas campanhas eleitorais, e até 2006 as
autoridades legislativas e executivas municipais sempre foram compostas por
representantes dos grandes proprietários de terra e empresários a exemplo da
câmara de vereadores de Altamira composta por médicos, pecuaristas e
empresária. Não há registro que lideranças dos trabalhadores rurais tenham
exercido cargo de vereador naquela casa de leis. Estas políticas têm
contribuído com o êxodo rural de Altamira com exceção das políticas dos órgãos
federais a partir de 2003.
Nosso município sofreu o mal de vários municípios, falta de gestão. Não
houve planejamento para o uso correto da floresta e rios. Ricas em matéria
prima e empobrecidas pela ação humana que tem como plano sobreviver ou se dar
bem com os elementos da natureza. Os órgãos federais responsáveis pelo projeto
executado não gerenciou corretamente as ações e outro órgãos federais que
deveriam tem sido implantados na região só chegaram quando o erro já estava
agravado. Ate hoje as rodovias federais que ligam nossas cidades à capital do
estado e outros estados não são asfaltadas. Muitas famílias moram em baixo das
redes de alta tensão de energia elétricas e vivem na escuridão. Outro fator que
mostra o descaso dos governos com a gestão ambiental é o sistema educacional no
meio rural que usa os mesmos conteúdos, metodologias e planejamento do sistema
da cidade. Altamira, que no inicio,
teve como base econômica o extrativismo, depois a agricultura, e, em 2006 não
se sabia qual sua principal vocação econômica, apesar da existência da extração
mineral como seixo, “pedras” e vários tipos de areia para uso da construção
civil. Ainda há também a coleta de castanha-do-pará, seringa e óleos vegetais.
Por ultimo citamos a extração de madeiras de varias espécies para exportação e
consumo interno. Nestas áreas o capim substitui a floresta fazendo aumentar a
pastagem para criação de gado, o que mais tem crescido nos últimos anos, tanto
nos pequeno lotes como nas grandes fazendas. É a população em busca de uma nova
alternativa para economia do município e região.
O município deverá ainda continuar com seus
convênios com os órgãos de assistência técnicas e assinar outros em parceria
com as associações e sindicatos dos trabalhadores rurais para a realização de
palestras e cursos com a população das comunidades rurais. Visando construir
novos modelos para a produção agrícola através de projetos participativos e
ações voltadas para solucionar os problemas estruturais e sociais destas
comunidades. Com estas políticas na zona rural a cidade também será beneficiada
com a qualidade e quantidade dos produtos agrícolas.
Esta nossa pesquisa não apresentou todos os
problemas nem todas as propostas para solucioná-los, esperamos que a
inquietação que este trabalho nos deu possa surgir em outras pessoas,
principalmente nos educadores que trabalham no território rural do município de
Altamira que está se transformando em urbano, a exemplo da comunidade que
pesquisamos, que após a chegada da energia elétrica de Tucuruí proporcionando o
uso de TV com parabólica e outros benefícios. Diminuindo as distancias entre as
pessoas e melhorando a comunicação como o uso do celular, tem as pouco
esquecidas seu folclore e dando inicio a construção de uma nova cultura.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ANGÉLICA, Laura;
FERREIRA, Francisco e MOREIRA, Ivaldo. Tipologia de uma Localidade na
Transamazônica- gleba 8. Belém-Pa. Agosto 1994.
Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. Projeto Altamira I, Brasília
31 de março de 1972
MIRANDA,
Mariana; OSÓRIO, Lia e BECKER, Bertha. IN: Fronteira Amazônica: Questões Sobre
a Gestão do Território. COLONIZAÇÃO OFICIAL NA AMAZÔNIA: O CASO DE ALTAMIRA,p.35-46.
UMBUZEIRO,
Professor Ubirajara Marques, Altamira e Sua História. 3ª edição. Altamira-Pará
1999. 210p.
Sites:
www.socioambiental.org.br-
Instituto Sócioambiental (ISA).2006
www.fundacaonazare.com.br
–Fundação Nazaré de Comunicação. Arquidiocese de Belém. 2006
Jornal:
CONTR@PONTO, 27
de agosto 2001. Ano II - Nº 76.
[1]
Professor no SOME – Sistema Organizacional Modular de Ensino Médio. Graduado em
Geografia e Pós- Graduando em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
² Rafael
Lopes Ferreira, Gestor Ambiental (Faculdades Integradas Camões / PR),
Especialista em Biotecnologia (Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR)),
orientador de TCC do Centro Universitário Internacional Uninter.
[2]Metade
de uma casa coberta sem paredes
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